Entendemos que o trauma se manifesta de formas diferentes em cada pessoa, sendo profundamente influenciado pelas diversas identidades interseccionais das mulheres que acessam nossos serviços. Esse princípio atravessa todas as áreas do nosso trabalho: desde a oferta de serviços até o monitoramento, avaliação e aprendizagem, passando pela atuação política e na luta por direitos, além das nossas práticas internas. Isso significa que oferecemos um espaço seguro e acolhedor tanto para quem trabalha na LAWA quanto para quem busca apoio. Sempre fornecemos informações e opções, garantindo que cada mulher tenha autonomia para conduzir o seu próprio caminho.

Nosso trabalho está alinhado a um objetivo mais amplo de justiça social. Não pode haver justiça social enquanto mulheres e crianças continuarem enfrentando a opressão patriarcal e supremacista branca. Para desmontar esses sistemas — que são interconectados e se sustentam mutuamente —, todas nós precisamos desempenhar um papel. Nesse contexto, o trabalho da LAWA é focado na atuação direta com sobreviventes, oferecendo acolhimento emergencial e atendimento individualizado para mulheres e crianças.

Como uma organização latino-americana, buscamos enraizar nosso trabalho na prática do feminismo comunitário, especialmente em sua abordagem coletiva de atuar com e para a comunidade. Somos uma comunidade de diáspora e, por isso, dependemos profundamente do nosso tecido social, da solidariedade e do apoio mútuo entre nós. Cuidar do bem-estar da comunidade faz parte essencial dessa abordagem. O feminismo negro também está conectado à perspectiva interseccional, que igualmente objetiva a justiça social.

Mulheres e crianças da maioria global que sobrevivem à violência de gênero enfrentam desafios adicionais devido às desvantagens interseccionais que moldam suas experiências de abuso. Nesse sentido, ao adotarmos uma abordagem interseccional em nosso trabalho, reconhecemos que as vivências de cada mulher são únicas e que há impactos adicionais resultantes da intersecção de diferentes aspectos de suas identidades, como raça, classe, status migratório, orientação sexual, deficiência, neurodiversidade, entre outros.

O antirracismo é um princípio mais amplo, alinhado à carta antirracista do setor de enfrentamento à violência contra mulheres e meninas (VAWG). Mas também é uma abordagem que nos permite compreender como o racismo e o colorismo operam dentro da nossa própria comunidade e em nossos países de origem. Esses princípios exigem uma reflexão pessoal sobre identidade, privilégios e dinâmicas de poder — e sobre como esses elementos podem variar de um contexto para outro. Reconhecer esses fatores e o papel que desempenham na oferta de serviços e na relação com as usuárias é fundamental para uma atuação ética, consciente e transformadora.

Por irmandade, entendemos a solidariedade política entre mulheres. Na LAWA, vivemos essa irmandade junto a mulheres indígenas, negras, asiáticas e trans. Assumir-nos como uma organização feminista negra faz parte de uma jornada complexa, que exige reflexão interna e desconstrução - um processo que pode se mostrar desconfortável, porém, necessário.